13 de ago. de 2010

Kurt Cobain... 16 anos sem você


“Para Bodah(amigo imaginário de Kurt Cobain),
Falando na língua de um simplório experiente que obviamente preferia ser um maricas covarde, infantil resmungão. Esta nota deveria ser bem mais fácil de ser compreendida.
Todas as advertências do Punk Rock 101 Courses ao longo desses anos, esta é a minha primeira introdução ao que poderíamos chamar de ética envolvendo independência e com o engajamento de sua comunidade foram provadas como verdadeiras. Há muitos anos eu não venho sentindo excitação ao ouvir ou ao compor música, bem como ao ler ou escrever. Eu me sinto culpado de dizer estas coisas através dessas palavras. Por exemplo, quando estamos nos bastidores e as luzes se apagam e o ruído enlouquecido da multidão começa, isto não me afeta da maneira como afetava o Freddie Mercury, que costumava amar e se deliciar com o amor e admiração da platéia, o que eu admiro e invejo totalmente. O fato é que não posso enganar vocês, nenhum de vocês. Simplesmente não seria justo para vocês e para mim. O pior crime que eu poderia imaginar seria o de afastar as pessoas sendo falso, fingindo estar me divertindo 100%. Às vezes eu sinto que deveria acionar um despertador todas as vezes que subisse ao palco. Eu tenho tentado com todas as minhas forças gostar disso, e eu gosto, Deus acredite em mim, eu gosto, mas isso não é suficiente. Eu aprecio o fato de que nós comovemos e entretivemos muita gente. Eu devo ser um daqueles narcisistas que só gostam das coisas quando elas acabam.
Eu sou muito sensível, eu preciso estar ligeiramente entorpecido para recobrar o entusiasmo que eu tinha quando eu era criança. Nas nossas últimas três turnês, tive um reconhecimento por parte das pessoas que conheci pessoalmente e dos fãs da nossa música. Mas eu ainda não consigo superar a frustração, a culpa e a empatia que eu tenho por todos.
Há bondade em todos nós e eu simplesmente amo muito as pessoas. Amo tanto, que isto faz me sentir tão fudidamente triste. O triste, sensível, insatisfeito, pisciano, homem de Jesus.
Por que você simplesmente não relaxa e curte? Eu não sei!
Eu tenho uma esposa que é uma deusa e que transpira ambição e empatia, e uma filha que me lembra bastante o jeito que eu costumava ser, cheia de amor e alegria, beijando cada pessoa que ela encontra porque todo mundo é legal e não vai machucá-la. Isto me aterroriza ao ponto de eu mal conseguir funcionar. Eu não suporto pensar na Frances tornando-se uma pessoa infeliz, auto–destrutiva uma roqueira da morte, coisas que eu me tornei.
Eu tenho estado bem, muito bem, e eu sou muito agradecido por isso, mas desde os sete anos, eu me tornei odiável perante as pessoas em geral. Isso porque parece tão fácil para os outros se darem bem e ter empatia entre si. Só porque eu amo e sinto muito dó das pessoas, eu acho. Obrigado a todos, do fundo do meu estômago queimando em náuseas pelas cartas e demonstrações de preocupação durante os últimos anos. Eu sou mesmo uma pessoa muito neurótica e taciturna e eu não tenho mais aquela paixão, então, lembrem-se: é melhor queimar de uma vez do que ir queimando aos poucos. Paz, amor e empatia. Kurt Cobain.

Frances e Courtney, eu estarei em seu altar.

Por favor, continue Courtney, pela Frances.

Para que a vida dela seja muito mais feliz sem mim. Eu amo vocês. Eu amo vocês.”




Eu não entendo as coisas como acontecem. O amor era demais pra ele, e depois de ler essa carta, eu tive medo. Medo de não suportar o mundo e a maldade das pessoas. Medo de decepcionar tudo e todos de uma forma irremediável. Assim como eu, Kurt tinha tudo pra ser feliz. Mas não tinha paz, ou um motivo. Acho que tudo se resume num motivo, um motivo pra permanecer de pé. Tenho medo de perder os meus motivos, porque se não os tiver, não terei mais nada. Mesmo o amor me parecerá inútil, se a paixão da minha vida não existir mais, se a pressão for demais pra mim, se tudo desabar, se quem eu amo desaparecer. Eu já perdi parte da minha felicidade, e integridade, com coisas que me fizeram passar, e não quero isso.
E eu me sinto tão igual a ele nesse momento, tão perdido, mas sem heroína pra amortecer a queda. Tudo o que eu tenho é o computador, pra eu poder escrever mais uma de muitas cartas tristes pra muitas pessoas que não existem e pra duas ou três que realmente se interessam. Eu escrevo pra mim, e só pra mim. Mas a pergunta é: Porque postar tudo isso publicamente? Pra encontrar alguém como eu.
Eu tenho amores, e motivos pra me orgulhar sim, mas a pergunta que fica é o que eu vou fazer quando as coisas saírem do controle, porque inevitavelmente saem, não importa o quão controlado você seja. Será que eu vou surtar e me suicidar? Ou vou achar uma forma de lidar que seja melhor que essa?
Vejamos... Eu tenho uma relação em ruínas com a minha mãe, tive uma infância complicada, e fui rejeitada pelos meninos por muito tempo. Quando eu resolvi mudar, eu fiz coisas que eu me orgulhava. E me orgulho, acredite, mas certas coisas me parecem muito fúteis hoje em dia, e isso tem me deixado meio deprimida. O mundo tem acabado comigo, o preconceito e a crueldade das pessoas, e a indiferença com os problemas do próximo. Mesmo que não possamos fazer nada, o apoio é fundamental. Muita gente se perde por não ter ninguém que ouça o que a outra tem a dizer. Eu por muito tempo não tive alguém realmente confiável pra dizer o que me perturbava, e eu tenho uma preocupação em evitar que as pessoas vejam as minhas tristezas. Mas ficar segurando as coisas uma hora dói muito. Então eu escrevo. E acendo o meu L.A. e faço amor até não sentir as pernas. E choro compulsivamente sem motivo.
E eu não peço ajuda de ninguém, e não exponho os meus problemas e não uso dos outros pra espantar os meus demônios. Faço isso por mim mesma.

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